Periodicamente alguma tragédia humanitária comove o mundo da música e leva artistas a organizarem projetos cujos resultados são muito mais estéticos que práticos. Nos anos 70, o mote era a Ásia, com concertos para o Camboja e para Bangladesh. Nos anos 80, os artistas de bom coração descobriram que havia fome na África – uau, impressionante como ninguém notara isso antes.
A dica foi dada pelo irlandês Bob Geldof, vocalista da banda punk Boomtown Rats – foi ele também que interpretou Pink, no filme
Pink Floyd - The Wall. No final de 1984 ele mobilizou a "nata" da nova cena pop britânica e alguns veteranos (Phil Collins, Paul McCartney, Bowie) na gravação do compacto "Do they know it's Christmas Time?", destinado a arrecadar fundos para o combate à fome na Etiópia. (Parênteses: A música pop é muito cruel. Noventa por cento dos artistas que gravaram o compacto mergulharam no mais profundo ostracismo nos anos seguintes.)
Sensibilizados pela causa ou simplesmente com inveja da repercussão, artistas norte-americanos, capitaneados por Harry Belafonte, Kenny Rogers, Michael Jackson e Lionel Richie, deram o troco com "We are the world", que vendeu feito pão quente e resultou no aclamado show transcontinental Live Aid.
Moral da História? Todo mundo que ficou de fora dos dois projetos resolveu tirar sua casquinha, e a turma do rock pesado não era melhor que ninguém. Até porque, tanto o compacto britânico quanto o norte-americano eram feudo quase exclusivo da música pop, com pouca ou nenhuma participação de roqueiros. Assim, Ronnie James Dio compôs uma canção que combinava uma letra bem piegas com uma música forte e chamou meio mundo do rock pesado anglo-americano para o estúdio, sob o nome Hear 'n Aid (ouça e ajude). A faixa gravada foi chamada, modestamente, "Stars"...
Veteranos como o próprio Dio, Rob Halford, Camine Appice, Ted Nuggent, Eric Bloom e Buck Dharma misturaram-se com os nomes mais relevantes do movimento de rock pesado que emergira de Los Angeles nos dois anos anteriores. A gravação base foi feita pela banda de Dio (Vivian Campbell na guitarra, Jimmy Bain no baixo, Claude Schnell nos imperceptíveis teclados e Viny Appice na bateria) com a adição da segunda bateria de Frankie Banali (Quiet Riot) e da dupla de guitarras do Iron Maiden, Dave Murray e Adrian Smith, na base dos refrões.
A música, em que pesem todas as críticas ao projeto e à letra, é muito boa. Tem ainda, como bom metal dos anos 80, um enooorme solo nos quais os guitarristas presentes se exibem. Desnecessário dizer que Vivian Campbell, Yngwie Malmsteen e Buck Dharma sobram. Outro que brilha fazendo um solo no fim da música é Neil Schon, do Journey.
Alguns grupos foram convidados mas não puderam participar da gravação. Em vez disso, mandaram faixas ao vivo para serem incluídas no LP. A mais notável é "On The Road", do Motorhead (nada menos que "Built For Speed" com outra letra). Outra curiosidade é a inclusão de uma canção de Jimi Hendrix. Talvez "Can You See Me" esteja ali como lembrança de tudo que o metal deve ao Deus da Guitarra, ou então porque pegava mal não haver um único artista negro naquele disco para a África.
Mas qual o resultado dos projetos? Bob Geldof tornou-se mundialmente famoso, virou cavaleiro do Império Britânico (um dos responsáveis pela pilhagem da África, aliás) e candidato a santo. Mas sua maior contribuição para a música foi mesmo ter levado ao suicídio (ao menos é o que se alega) o chatérrimo Michael Hutchence, vocalista do igualmente chato INXS.
E a África? Bem, ela não melhorou muito não. Boa parte da grana arrecadada por todos esses discos e shows foi entregue aos governos locais. Ou seja, foi parar nas fortunas pessoais de diversos ditadores. Como diz o ditado, de boas intenções o Inferno está cheio.
01. Stars (Hear 'N Aid)
02. Up To The Limit (Accept)
03. Hungry For Heaven (Dio)
04. Can You See Me (Jimmy Hendrix)
05. Heaven's On Fire (Kiss)
06. On The Road (Motorhead)
07. Distant Early Warning (Rush)
08. The Zoo (Scorpions)
09. Go For The Throat (Y&T)
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7 comentários:
Cara, é sempre um prazer visitar seu blog. Faço sempre uma bela viagem aos gloriosos anos 80. Bom tempo. Olha, Hear 'n Aid – Stars foi um projeto bem legal e foi bastante curioso ver tanta gente boa de uma tacada só. Gosto mais dos solos do que propriamente a canção, que não é ruim não. Fato curioso é que na época o "Sensacional" Ed Van Halen recusou o convite pra participar do projeto. Qto aos solos, dêem uma ouvida com bastante atenção no do Carlos Cavazo, do Quiet Riot. Sempre me agradou nas 6 cordas. Bem legal relembrar e olha que isto é raridade. Cara, muito bom as resenhas e o blog. Valeu.
Great post!
Thanks:)
Cheers mate!!
I only knew about the song Stars, I will try the rest of the record, it has a very good look!!!
Thanks!
Esse é prá matar saudade!!!!!! Valeu pelo post, Dagda. Um pedido - vc tem alguma coisa do Geordie????
Grato
Loyola
Tenho, não, meu caro. O único Geordie que eu conheço é o LaForge.
Abs
What a goofy record that one was. Completely senseless.
Grande postagem, conhecia a musica stars, alias os solos são fantasticos ja pagam o disco mas nao conhecia todo o disco e uma viagem parabens ( a resenha ficou muito boas )valeu demais foi uma viagem.
luiz bruxo
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