sábado, setembro 08, 2007

The Moody Blues – Days Of Future Passed (1967)

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Certa vez uma amiga me pediu uma coletânea que a apresentasse ao rock progressivo. Como seria em MP3, dava para entulhar de coisas, mas uma questão me atarantava: com o que abrir a coletânea? Como definir, ainda que de forma estritamente chutada, o "pontapé inicial" do prog rock? Beatlemaníacos na certa sugeririam Sgt. Pepper's, lançado em junho de 1967, enquanto vozes menos apaixonadas apontariam The Pipper At The Gates Of Dawn, gravado na mesma época e lançado em agosto daquele ano. Ambos são certamente revolucionários. Mas, talvez por serem tão revolucionários, não seja possível enquadrá-los no que viria a ser o prog – assim como Hendrix foi a grande influência do hard rock, sem ficar restrito ao gênero.

Assim, minha escolha para abrir a coletânea recaiu sobre outro disco de 1967, lançado em dezembro: Days Of Future Passed, segundo trabalho do grupo de Birmingham Moody Blues. Formada em 1964, a banda era mais voltada pra rock e blues e chegou a grava o primeiro filme promocional para uma música, "Go Now", em 1965 – sim, antes de "Penny Lane"...

Depois de um disco de estréia convencional, The Magnificent Moodies, entraram para a banda dois membros que mudariam radicalmente seu som, o guitarrista e vocalista Justin Hayward e o baixista John Lodge, amigo do tecladista Mike Pinder e o flautista Ray Thomas. A mudança afastou o Moody Blues das origens bluseiras em nome de um som mais elaborado, como acontecia com diversas outras bandas da época.

Foi quando o destino agiu. O contrato do grupo com a gravadora Decca havia expirado e eles ainda deviam algumas faixas. Na época, a Deram, uma subsidiária da Decca, desenvolveu um novo sistema de gravação chamado Deramic Sound System, que, segundo seus projetistas, garantia a melhor fidelidade de áudio tanto para música erudita quanto para pop. Os Moodies então receberam uma proposta: em troca da liberação do contrato, gravariam, junto com uma orquestra, uma versão para "Sinfonia do Novo Mundo", do tcheco Antonín Dvořák.

O grupo topou, mas, ao perceber que a gravadora não colocou ninguém no estúdio para supervisionar os trabalhos, subverteu o projeto, com a cumplicidade do regente Peter Knight e do produtor Tony Clarke. Em vez da sinfonia original, gravariam músicas próprias, compostas sob um "conceito": um dia na vida de uma pessoa comum. Todas as canções já eram tocadas nos shows – claro que sem orquestra. Knight então compôs passagens orquestrais (com cara de trilha sonora de filme dos anos 50) e arranjou trechos de canções deles. Desta forma, preservava-se o objetivo inicial da Deram.

Com o trabalho pronto, os executivos da gravadora não gostaram lá muito do resultado, não. Achavam que aquela mistura de clássico com rock (além disso, um rock meio fora do padrão comercial) poderia alienar o público. Mesmo assim, puseram a bolachona na rua. Para sua enorme surpresa, o disco foi um sucesso, puxado pelos compactos "The Afternoon: Forever Afternoon (Tuesday?)" e "Nights In White Satin".

Disco conceitual, com forte elaboração nas composições e nos arranjos (ainda que sem solos longos que depois marcariam o estilo), fusão com música clássica etc. Por essas características, e por não misturar outros estilos, como psicodelismo e blues-rock, cravei sem sustos Days Of Future Passed como o marco zero do progressivo. Ah, a música que entrou na coletânea foi "Nights In White Satin".

1. The Day Begins
2. Dawn: Dawn Is I A Feeling
3. The Morning: Another Morning
4. Lunch Break: Peak Hour
5. The Afternoon: a) Forever Afternoon (Tuesday?) b) (Evening) Time To Get Away
6. Evening: a) The Sunset b) Twilight Time
7. The Night: Nights In White Satin

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5 comentários:

hazzamanazz disse...

Em grande parte das vezes, as gravadoras são como o time do Corinthians (que é para quem torço, só para exclarecer): dispensaram Pelé, porque ele não teria futuro no futebol... :s 8O

Outro caso, este já mais clássico e bem mais conhecido é o do Iron Maiden, onde a gravadora recomendou eles cortarem o cabelo e fazerem um som mais "punk/pop", pois assim teriam mais futuro.
E ainda dizem que os caras são essênciais... LOL ;-)

Ah, nada contra o Moody Blues - eles tem coisas bem legais -, mas eu prefiro a demência do velho Sid mesmo. :D

[ ]'s

Anônimo disse...

Os Beatles também foram dispensados em 1962, pois algum executivo idiota disse que "bandas com guitarra estavam fora de moda".

Este álbum dos Moody não foi lançado na época nos EUA, por causa de outro executivo pastel (estas grandes gravadoras merecem afundar mesmo). Só foi lançado, oficialmente, por lá, em 1972, e foi o maior sucesso, com rebate na Inglaterra, fazendo sucesso 2 vezes na terra da Rainha, sem ser relançamento.

"Nights..." é, pra mim, a mais bela balada do prog.

Edson d'Aquino disse...

Existe uma forte corrente, na qual me incluo, que afirma ser The Moody Blues a primeira banda prog da história. Tenho tuuuuudo dos caras e mais alguma coisa pois sou fã desde que ouvi 'Nights In White Satin' pela 1ª vez no radinho de pilha estratégicamente posicionado embaixo do meu travesseiro na hora de dormir. Eu tinha em torno de 7 anos de idade. Qualquer dia vou postar a discog deles no G&B. Tô tomando coragem.
Abrações,
Edson d'Aquino

João Vítor disse...

Eu teria sido mais óbvio e sem ordem cronológica, teria dado o Dark Side of The Moon de cara.

Anônimo disse...

Minha modesta opinião é a de que foi a partir do "Sgt. Peppers...", as portas para o progressivo se abriram. Embora esse disco não fosse progressivo, havia uma música que seminal de progrock: "A Day In The Life". Quanto ao "The Pipper at the gates of Dawn", do Pink Floyd, penso que a questão não seja paixão, em apontarmos o "Sgt.Peppers..." como pioneiro, em vez do "Pipper...", já que este último não é progressivo, mas psicodélico - o que em 1967 já não era mais novidade alguma. Quanto a esse disco do Moody Blues, aí sim, acho que trata-se do primeiro disco de progrock. Voltando ao Pink Floyd, antes do "The Dark Side...", o Deep Purple, em 1970, já havia lançado um disco de progrock, o "Concert
For Group And Orchestra".

Abraço,
ccm