quarta-feira, abril 15, 2009

Os banidões do Ozzy

Ozzy Osbourne já foi meu ídolo. Quer dizer, de certa forma ainda é. Eu ainda adoro o trabalho dele no Black Sabbath e em boa parte de sua carreira solo e me divertia com a sua maluquice, embora hoje veja isso mais como uma compulsão auto-destrutiva.

O problema é que, com o tempo, a postura de Ozzy mudou. Ao mesmo tempo em que deixava de ser roqueiro para virar comediante de TV (uma amiga minha de vinte e poucos anos se dizia fã de Ozzy sem jamais ter ouvido uma música dele), ele passou a tomar atitudes no mínimo questionáveis em relação a sua antiga produção musical. Não foram atitudes movidas por preocupações artísticas, mas por pura ganância e mesquinharia.

Em 2001, Bob Daisley e Lee Kerslake entraram com um processo contra Ozzy por que este (e sua mulher e empresária Sharon) não pagava-lhes direitos devidos por terem co-escrito canções e tocado em canções e tocado (respectivamente baixo e bateria) nos dois primeiros e melhor discos do comedor de morcegos. Em vez de pagar o que devia aos antigos companheiros, Ozzy foi para estúdio com o baixista Robert Trujillo e o baterista Mike Bordin e fez com que estes regravassem as passagens de baixo e bateria de Blizzard Of Ozz e Diary Of A Madman, lançando as “novas versões” para que Daisley e Kerslake nada recebessem pelo trabalho original.

Detalhe: Gene Simmons , assumidamente um cara que ama dinheiro no limite da imoralidade e não se furta a falar mal de antigos colegas, nunca cogitou refazer Lick It Up para privar Vinnie Vincent do justo pagamento por seu trabalho. Detalhe II – A Missão: A fama de Sharon Osbourne é tal que ela foi “homenageada” por Geezer Butler com a música “Digital Bitch”, do disco Born Again, do Black Sabbath.

Na esteira desses infelizes relançamentos, Ozzy deu uma “limpada” em sua discografia, banindo quatro títulos – pelo menos um deles pelo mesmo motivo torpe. Eles ainda podem ser encontrados na Europa e na Ásia, mas não circulam mais pelo mercado norte-americano – e, por tabela, brasileiro. Pois bem, em reverência ao Ozzy de ontem, a Caverna traz aqui os discos que o novo Ozzy não quer que você ouça.

Speak Of The Devil (1982)



Mil, novecentos e oitenta e dois foi um ano de cão para Ozzy. Em março, o genial guitarrista Randy Rhoads morreu num acidente de avião, jogando o vocalista numa depressão profunda, embora continuasse a se apresentar – Bernie Torme substitui Rhoads inicialmente, seguido por Brad Gillis.

Como ainda não havia material suficiente para um novo disco de estúdio, a idéia de Ozzy era lançar um disco ao vivo com gravações feitas com Rhoads. Porém, na metade do ano, o Black Sabbath anunciou a intenção de lançar até o fim do ano seu primeiro disco ao vivo oficial, tendo Ronnie James Dio nos vocais. A Epic, gravadora de Ozzy, decidiu que, para fazer frente a esse lançamento, era preciso um disco não da carreira solo dele, mas de seus clássicos com o Sabbath.

Este é o resultado, um disco cercado de controvérsias. Embora Ozzy sempre tenha cantado músicas do Sabbath (de mais a mais, ele é co-autor delas), um show somente com repertório da antiga banda era algo inédito e jamais repetido. Na mesma hora surgiram rumores de que o disco era fajuto, gravado em estúdio ou, na melhor das hipóteses, no palco sem platéia, com os berros desta acrescentados depois. Como não há um só bootleg desse show, a suspeita só faz crescer.

Para aumentar a controvérsia, foi lançado em VHS com o mesmo nome (chegou a sair em DVD de banca de jornal por aqui) mas com repertório completamente diferente daquele do disco – só as duas últimas faixas estão nos dois.

Talvez por esses motivos Ozzy tenha excluído o disco de sua discografia original, mas ele merece uma audição. Primeiro porque o repertório é invejável. E segundo porque era, até então, o único registro do grande baixista Rudy Sarzo na banda de Ozzy. Junto com Tommy Aldridge, ele formou uma cozinha impecável. Pena que Brad Gillis suma ao tentar fazer as vezes de Tony Iommi.

1. Symptom of the Universe
2. Snowblind
3. Black Sabbath
4. Fairies Wear Boots
5. War Pigs
6. The Wizard
7. N.I.B.
8. Sweet Leaf
9. Never Say Die
10. Sabbath Bloody Sabbath
11. Iron Man / Children of the Grave
12. Paranoid

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No vídeo, “Iron Man / Children Of The Grave”:



The Ultimate Sin (1986)



Quem viu o show de Ozzy no Rock In Rio (e eu vi na fila do gargarejo) lembra até hoje a intensidade da apresentação. O repertório, calcado nos três discos solo dele até então, era irretocável, enquanto a banda estava perfeita, com Daisley, Aldridge e mais Don Airey nos teclados e o novato Jake E. Lee debulhando na guitarra. Vendo aquele show, mal podíamos esperar pelo próximo disco de estúdio de Ozzy.

Quando o disco veio, um ano depois, foi um tremendo corta tesão. Da formação do show aqui, só Jake E. Lee permanecia – Daisley ajudou a compor quase tudo, mas brigou com Ozzy no início das gravações. The Ultimate Sin vinha embalado em muita lantejoula, com muito laquê e tudo o mais da fórmula do glam metal que dominava as paradas americanas de então. Embora tivesse algumas músicas boas, em especial “Killer Of Giants”, faltava-lhe o punch dos discos anteriores. A música de trabalho, “Shot In The Dark”, era pop de doer. Do ponto de vista comercial, porém, foi um sucesso absoluto.

O motivo para o disco sair do catálogo foi pura mesquinharia. Phil Soussan, baixista que substituiu Daisley, escreveu com Ozzy a citada “Shot In The Dark”. Na verdade, ele trouxe a música pronta de sua banda anterior, a Wildlife. Ozzy mandou que ele refizesse a letra e exigiu co-autoria para gravá-la. O compacto chegou ao décimo lugar da parada de rock e motivou dois processos que Soussan abriu, após ser demitido por Ozzy, alegando também a falta de pagamento de royalties.

1. The Ultimate Sin
2. Secret Loser
3. Never Know Why
4. Thank God for the Bomb
5. Never
6. Lightning Strikes
7. Killer of Giants
8. Fool Like You
9. Shot in the Dark

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No vídeo, o clip de “Shot In The Dark”:



Just Say Ozzy (1990)



Este aqui eu não consigo entender o motivo para ser excluído. Após o pop The Ultimate Sin, Ozzy lançou em 1988 o pesado No Rest For The Wicked, com o garoto Zakk Wylde substituindo Jake E. Lee. Embora Bob Daisley tenha tocado o baixo no estúdio, o encarte já trazia a foto do novo integrante da banda, um certo Terrence “Geezer” Butler.

Lançado em 1990, este EP ao vivo foi, oficialmente, gravado na Inglaterra. Na verdade, o som da platéia veio de um show de Ozzy gravado nos EUA para a MTV. Picaretagem da grossa, mas o resultado vale a pena.

1. Miracle Man
2. Bloodbath in Paradise
3. Shot in the Dark
4. Tattooed Dancer
5. Sweet Leaf
6. War Pigs

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No vídeo, “Miracle Man” ao vivo, com Geezer Butler no baixo:



Live & Loud (1993)



Por fim, outro de não deveria sair de catálogo. Em 1983, na esteira do lançamento do bom No More Tears, Ozzy caiu na estrada dizendo que aquela seria sua última turnê. Diversos shows foram gravados e compilados neste álbum , culminando com uma apresentação da formação original do Black Sabbath.

O repertório reúne o melhor da carreira solo de Ozzy, e a banda está quicando nos cascos.

Disco 1

1. Intro
2. Paranoid
3. I Don't Want To Change The World
4. Desire
5. Mr. Crowley
6. I Don't Know
7. Road To Nowhere
8. Flying High Again
9. Guitar Solo
10. Suicide Solution
11. Goodbye To Romance

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Disco 2

1. Shot In The Dark
2. No More Tears
3. Miracle Man
4. Drum Solo
5. War Pigs
6. Bark At The Moon
7. Mama, I'm Coming Home
8. Crazy Train
9. Black Sabbath
10. Changes

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No vídeo, “Bark At The Moon”, ao vivo:

7 comentários:

luxorissa disse...

é realmente eu naum entendo o porq de tirar de catalogo estes discos,alguns aí ainda posso encontrar em lojas,mas é lamentavel esta decisão tomada par nós fãs.

Guimara disse...

Ozzy deveria dar um pé na bunda da Sharon.
Eu não tinha o Ultimate Sin nem o Just Say Ozzy em CD.
Quando soube dessa loucura, procurei no Mercado Livre e achei a preço de banana.
Apesar de tudo, o velho Ozzy é o melhor de todos!

Junior-SP disse...

É realmente triste saber a que ponto chegou sr. Ozzy, adoro os albuns mencionados, tenho inclusive o cd original do speak of the devil, e sabia que era pra duelar com o live evil (que aliás se essa era a proposta, perdeu feio).
Outra coisa interessante é que o genail no more tears foi composto em boa parte por lemmy do motorhead. Será que um dia ele vai excluir da discografia dele esse album tb, só pra não pagar os direitos ao lemmy???
Lamentavel.

Untold One disse...

Nao acredito que o "papai" Ozzy chegou a este ponto. Desta forma todos nos vemos um bom exemplo de como o dinheiro pode estragar um "bom" homem e todos nós. Lastimavel Ozzy.

Geraldo disse...

É rapaz, Ozzy é como Pelé então. Um gênio dentro do campo mas uma lástima fora dele.

Pedro disse...

Eu não sabia dessa questão do Speak of the Devil ser "fajuta",tenho o LP dele original... uma vez ouvi dizer que existe uma versão européia chamada Talk to the Devil com as músicas da carreira solo (Blizzard e Diary) ...se alguém puder confirmar agradeço...abs

Anônimo disse...

thanks - steve