sábado, junho 02, 2007

The Rolling Stones Rock And Roll Circus (1968/1995)


















Galera, mais um programa duplo de altíssima qualidade aqui na caverna – e que estava prometido naquele post do Jethro Tull.

"Tudo o que nós fazemos, os Stones imitam seis meses depois", disse certa vez John Lennon. E o pior é que ele não estava inteiramente errado – apesar de eu gostar mais de Stones que de Beatles.

Em 1967 os rapazes de Liverpool lançaram Magical Mystery Tour, uma pretensiosa ego-trip em forma de telefilme, exibido pela BBC. Antes que o beatlemaníacos presentes venham me dar porrada, vale lembrar que o próprio Paul McCartney, meses depois, pediu desculpas ao público. "Foi um desafio, e não deu certo", admitiu. A reação da crítica e do público foi tão ruim que o filme levou nove anos para chegar aos EUA.

Independentemente desses reveses, era óbvio que os Stones não deixariam barato e dariam um jeito de fazer um telefilme também, gravado em dezembro de 1968. A idéia era boa: num cenário de circo mambembe, os Stones receberiam jovens talentos e alguns convidados ilustres, fechando, claro, com uma apresentação de Jagger, Richards e companhia.

O resultado é espetacular. De cara, o show apresenta uma curiosidade para qualquer roqueiro. A banda de abertura é um certo Jethro Tull, um quarteto de blues-folk-rock que acabara de lançar seu disco de estréia. O guitarrista Mick Abrahams deixara o grupo e fora substituído por um garoto canhoto de Birmingham chamado Tony Iommi. Este é o único registro dele com a banda, pois logo depois seria "saído" para dar lugar a Martin Barre. Melhor para a o mundo do rock, que ganharia o Black Sabbath. Ah, consta que o Tull não era a primeira opção. A idéia é que a abertura ficasse com uma banda recém-formada chamada Led Zeppelin, mas não rolou...

Em seguida, a maior banda de rock de todos os tempos, The Who (se o distinto não acha, paciência...). A música em questão, "A Quick One While He's Away" representou uma virada na carreira da banda e talvez no rock como um todo. Pete Townshend lembraria numa entrevista que, em 1966, o produtor Kit Lambert sugeriu que ele fizesse uma música para ocupar os nove minutos que haviam sobrado no segundo disco do Who. Apesar de considerar a idéia uma heresia ("rocks tinham, no máximo, três minutos"), Townshend topou a parada e compôs a canção, cheia de mudanças de ritmo e andamento. A primeira suíte do rock.

Depois do Who foi a vez do blues man americano Taj Mahal sacudir a platéia com rock funkeado da melhor qualidade. A atração seguinte foi Marianne Faithfull, uma lindíssima cantora cujo talento sempre foi ofuscado pela vida pessoal conturbada. Na época ela vivia com Mick Jagger e, dizem as más línguas, ciscava no terreiro de Keith Richards.

Bem, passados os números de abertura, era a vez das atrações principais. A primeira delas foi um desconhecido quarteto chamado The Dirty Mac. Quer dizer, desconhecido como quarteto, porque os integrantes eram para lá de conhecidos. No vocal e guitarra base, John Lennon; na guitarra solo, Eric Clapton; no baixo, Keith Richards, e, na bateria, Mitch Mitchell, do Jimi Hendrix Experience. Esse autêntico dream team reinventou "Yer Blues", uma das melhores canções do "álbum branco" dos Beatles. Mas, como nem tudo é perfeito, o Dirty Mac continuou no palco para servir, junto com o violinista israelense Ivry Gitilis, de trilha sonora para uma demonstração de furor sexual de Yoko Ono. A mulher consegue, perdoem o expletivo, foder um belo instrumental com seus uivos e ganidos insuportáveis.

Mas eis que chegou a vez dos donos da casa. E aí, por incrível que pareça, a coisa desandou. Das seis canções que a banda toca, somente "Sympathy For The Devil" lembrava a energia que sempre caracterizou os Stones. A banda estava burocrática, sem alma. Brian Jones, guitarrista e fundador do grupo, parecia morto no palco – um presságio sombrio, pois ele morreria de fato em julho do ano seguinte.

Com o especial gravado, editado e pronto para ir ao ar, os Stones resolveram engavetá-lo. A explicação (extra-oficial) era justamente a apatia da atração principal, especialmente se comparada à exuberância do Dirty Mac e à energia do Who. Para Jagger em particular, era inaceitável servir de veículo para a ascensão de um novo Adonis do rock, o louro Roger Daltrey.

Por isso, Rock And Roll Circus ficou 18 anos na gaveta, lançado em VHS e CD somente em 1996, para aclamação da crítica. Ali estava um apanhado do mais criativo momento da história do rock. Ou, como escreveu David Dalton na apresentação do CD, "por um breve momento, parecia que o rock'n'roll herdaria a Terra".

Bem, aproveitem. O vídeo está ripado do DVD em formato AVI.

1. Mick Jagger's Introduction Of Rock And Roll Circus
2. Entry Of The Gladiators
3. Mick Jagger's Introduction Of Jethro Tull
4. Song For Jeffrey (Jethro Tull)
5. Keith Richard's Introduction Of The Who
6. A Quick One While He's Away (The Who)
7. Over The Waves
8. Ain't That A Lot A Love (Taj Mahal)
9. Charlie Watt's Introduction Of Marianne Faithfull
10. Something Better (Marianne Faithfull)
11. Mick Jagger's And John Lennon's Introduction Of The Dirty Mac
12. Yer Blues (The Dirty Mac)
13. Whole Lotta Yoko (Yoko Ono and Ivry Gitlis with The Dirty Mac)
14. John Lennon's Introduction Of The Rolling Stones / Jumping Jack Flash (The Rolling Stones)
15. Parachute Woman (The Rolling Stones)
16. No Expectations (The Rolling Stones)
17. You Can't Always Get What You Want (The Rolling Stones)
18. Sympathy For The Devil (The Rolling Stones)
19. Salt Of The Earth (The Rolling Stones)

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E, de quebra, o áudio.













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17 comentários:

hazzamanazz disse...

É engraçado você falar que o The Who é a melhor banda de todos os tempos, porque eu lí exatamente a alguns minutos atrás, o seguinte texto:

"...críticos de música são estranhos. Primeiro eles diziam que o rock mainstream estava morto e que o negócio era indie. Então o que nós fizemos? Jogamos fora Pink Floyd (o que foi uma decisão acertada) e o The Who (o que foi um erro cabal, mas estamos corrigimos isso nos ultimos tempo)..."

Claro que ele estava fazendo uma alusão ao lançamento recente da banda e dos inúmeros tributos, homenagens, lançamentos de DVD e relançamentos da banda nesses últimos tempos.

E nem deu tempo pra agradecer tudo isso dos Stones, aliás!
HAHAHAHAHAHA...

[ ]'s

Dagda disse...

Hazz, meu querido.

Não sei quem foi o tosco que disse ter sido acertado jogar fora Pink Floyd, mas tem maluco pra tudo.

O problema da crítica (e olhe que eu já militei no meio) é que ela vive de "novidade" e, sejamos sinceros, não tem muito o criar de novidadade em rock após 50 anos do estilo.

Além disso, Floyd, Who, Zeppelin e tantos outros representam uma época em que rock (e música como um todo) era algo que exigia talento. Um dosc clichês mais burros que se repete é que "rock era música de dois acordes". Ele podia ser feito com dois acordes, mas tinha elaboração em cima disso. Aquele riff que Chuck Berry fez para a introdução de "Johnny Be Goode" mostra isso.

Acontece que a música foi, durante quase todo o século XX, o último bastião do talento. Pós-dadaísmo, você podia ser escultor sem saber esculpir; pós-concretismo, escritor mesmo sendo semi-analfabeto etc. Sem contar a pintura. Te juro que vi no MoMA uma parede vermelha que era uma "obra". Talento não significava mais nada, discurso e "atitude" justificavam tudo.

Demorou, mas nos anos 70 isso atingiu a música. E não tem alternativa, para estabelecer um reino de anões, você precisa matar os gigantes, daí "Eu odeio Pink Floyd".

Abs

hazzamanazz disse...

É interessante você tocar nesse ponto Dagda (e eu concordo com você, Pink Floyd é duca, o cara estava louco!).

Não concordo com isso, que após 50 anos de R'n'R não existe muito para se criar - eu ouço esse papo desde a década de 80 -, ainda é possível fazer algo novo, mesmo que isso tenha como inspiração o passado.
Taí o Rammstein que não me deixa mentir, mesmo eles tendo bebido, e muito, no Kraftwerk (eu não sei se você curte a música deles).

Ou então o Pantera, que é bem mais novo, mas mesmo assim conseguiu criar um estilo genial e pra lá de pesado, copiado ad-nauseum por inúmeras bandas.

Porém, o ponto é: apesar dos discursos e atitudes, a sua criação irá durar ou desaparecerá após 20 anos? É isso o que difere alguém de talento de um simples artista.
O que o punk é hoje, senão uma nota de ropadpé no livrão da História (com todo o saudosismo e relançamento possível e a tentativa da "indústria" de fazê-lo existir)?
Não é a toa que TODAS as bandas punks viraram metal ou foram para o Rock'n'Roll.

Aliás, muito disso é por causa dessa tal "indústria" - e aí eu já não me refiro somente a música -, que sempre precisa vender algo 'novo' para sobreviver, o que é claramente impossível.
Interessante também é o tempo em que vivêmos, claramente estagnado.

[ ]'s

Dagda disse...

Oi Hazz

Boa observação. Mas só com uma ressalva, Rammstein tá na estrada há 13 anos e o Pantera fez a virada no próprio som há quase 18. Particularmente eu não gosto de nenhuma das duas bandas, mas aí já é gosto. Mas a questão é: e de lá pra cá?

Quanto à crítica ao punk, infelizmente ele ainda não foi parar no rodapé. Como você lembrou bem, muitas das bandas viraram metal, para eterno prejuízo do metal. Quando se ouve hoje o lixo mal tocado se faz nos EUA, deve-se "agradecer" à influência punk, somada ao rap, claro.

Anônimo disse...

Demais o blog! Muita música de qualidade, vou ser"cliente" aqui hehehe

Abraço!

Anônimo disse...

Parabéns, ótima descrição...

Tenho este cd faz um tempo e desconhecia esta informação que seria o Led Zeppelin que tocaria no lugar do Jethro Tull !

Por curiosidade... vc sabe o motivo que levou o Led Zeppelin a não tocar, sendo que seria uma possibiliade de uma "banda nova" estar em evidencia?!

Outra vez, parabéns pelo blog...

Dagda disse...

Lucas

O começo de carreira do Zeppelin é prenhe de erros de avaliação. O melhor exemplo disso foi a recusa para tocar em Woodstock.

No caso do Rock And Roll Circus, não se eles recusaram ou se os Stones mudaram de idéia. Vale lembrar que o especial foi gravado em 11 de dezembro de 1968, 15 dias antes do primeiro show do Zeppelin nos EUA. Teria dado tempo.

Abs

D

Sergio Carioca disse...

Ai Dagda, mais uma vez mandou bem!!!
Tenho esse DVD ja fazem 2 anos e realmente e' duca....
Valeu pelo post do album. Ja to baixando.
Abracos

Anônimo disse...

Dagda !!!

Que, que eu vo falar meu ?!

O louco ... Já tive a oportunidade de ver esse DVD na casa de um camarada meu...agora achei o audio !!

Se ta apelando cara...Isso qui é muito bom...Mesmo !! ( eu achei ).

Muito obrigado mesmo...De todo coração man !!!

Sucesso a todos !!! ^L ^"'

Anônimo disse...

Eu baixei os arquivos do "Rolling Stones Rock And Roll Circus" e já descompactei. Foi gerado um arquivo .AVI. Como faço para assistir no DVD em vez de assistir no micro ?

Dagda disse...

Felipe, vai no Bar da Esquina (http://flaviosilvestre.blogspot.com/) que tem um monte de programas pra converter AVI para DVD.

Tiago Pereira da Silva disse...

Belo Post. É curioso falarmos em críticos de música... Parafraseando um genial cineasta português, o saudoso João César Monteiro, e perdoa-me a expressão "Eu quero que os críticos se fodam"... A maior parte da criítca é muito pouco fundamentada, e carece de profundidade estética, tenho até para mim, que alguns críticos gostam de uma espécie de campeonato e ranking.... tipo melhor álbum de sempre, melhor guitarrista de sempre, não sei se por mania ou por necessidade de tornar uma reportagem apetecível. Do meu ponto de vista e apesar de concordar em parte, com os que consideram Jimi Hendrix como o músico anglo-saxónico mais influente de sempre, isto tipo de afirmação é de uma subjectividade aterradora.
Um Abraço e continua
Tiago Pereira da Silva - Portugal

Maniofcrowds.blogspot.com

Anônimo disse...

Também concordo - quem discorda ?-,
que o Magycal Mystery Tour seja horrível, pífio - uma perfeita porcaria. No entanto, a trilha sonora dá de mil a zero nesse dos Stones. Abraço,
ccm

Anônimo disse...

Fala aí, grande Dagda. O link do audio do Rock And Roll Circus tá no pau. Sobe de novo, se puder.

Anônimo disse...

Porra Dagda (desculpe o palavrão). Vc acertou em cheio quando falou sobre música e talento nos anos 70. Essa história do "faça vc mesmo!, dos três acordes, é deculpa de quem não sabe tocar...
Viva David Gilmor e o talento, o esforço, o cuidado! Morte ao timbre mal tirado, ao desleixo, ao simplismo burro. E não me refiro ao minimalismo,embora não curta propriamente. Ser escultor sem saber esculpir, poeta analfabeto, guitarrista de três acordes, acontece muito!! E é uma pena!!!!

Unknown disse...

dagda,

os links do dvd não existem mais...=/ se não der pra upar outra vez, tem como me indicar um local pra baixar?

Valeu

Anônimo disse...



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