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Esse arquivo aqui é doação do OzzyRecife, visitante contumaz aqui da Caverna.
O motivo para este disco estar aqui é, antes e acima de tudo, nostalgia. Em 1984 eu estava terminando o Segundo Grau e começando a trabalhar em revistas de música. Um belo dia chega na redação o aviso que tinha saído um disco de metal nacional. Minha primeira reação foi de curiosidade, enquanto a maioria das pessoas riu ao ver o nome do artista.
Cabe aqui um parêntese. Além de a memória do brasileiro ser proverbialmente curta, o chamado BRock, embora fosse predominantemente
new wave (bobo, pretensioso e mal tocado), vinha embrulhado numa ideologia niilista pseudo-punk que jogava na lata do lixo toda a música (rock ou não) feita anteriormente no Brasil. Por conta disso, Robertinho de Recife não era lembrado por solos matadores em discos de outros artistas (meu favorito é o solo alucinado de "Revelação", de Fagner), mas por "É de chocolate", musiquinha infame que fez para o igualmente infame grupo infantil Trem da Alegria, com o qual gravou também "O elefante".
Por ter boa memória, eu não ri quando olhei o disco. Naquela época (antes de inventarem o nu metal), um bom guitarrista era
conditio sine qua non para fazer metal – e Robertinho era, sim, um grande guitarrista. Os risos da turma morreram na boca assim que começou a tocar "Fantasia preto e prata", um solo de arrepiar os cabelos, escancaradamente inspirado em Eddie Van Halen. Robertinho definitivamente resolvera fazer um disco de metal, não uma paródia. E para isso arregimentou uma cozinha de primeira linha, com os excelentes Beto Ibeas (baixo) e Renato Massa (bateria).
Aí veio "Fogo", primeira música em que Robertinho também arriscava os vocais, e foi minha vez de explodir numa gargalhada, que não consegui controlar até o último acorde de "Assassina". Nem tanto pela tosqueria das letras ("Bate o pé, bate a mão, a cabeça e o coração" ou "Gata, gatinha louca, gata selvagem"), que não eram muito piores que a média do BRock, mas porque, como vocalista, Robertinho era um ótimo guitarrista. Inteligentemente, ele agregou logo um garoto à banda para cuidar dos vocais nos shows que se seguiram.
Claro, muita gente torceu o nariz para o disco não por seus defeitos, mas por ser "do cara do 'Elefante'". Num bate-papo na revista em que eu trabalhava, Robertinho comentou essa resistência. Em linhas gerais, ele dizia que o músico no Brasil vive equilibrado entre o que gosta de fazer e a necessidade de pagar as contas. O dinheiro que ganhara com "O elefante" e "É de chocolate" tinha bancado a gravação de
Metal Mania e os equipamentos da excursão que se seguiu, incluindo um ônibus com uma pintura boiola de pele de animal que despertou inusitadas reações de inveja entre outras bandas cariocas.
Mas, como metal não dava dinheiro, mesmo, a experiência durou pouco. Em 1988 ele fundou uma das coisas mais asquerosas a virar vinil por aqui, o Yahoo, que encheu a burra de dinheiro com versões de baladas do grupo brega-metal Deff Leppard. Seguindo a mesma lógica do parágrafo anterior, recolheu a grana, gravou um bom disco autoral (
Rapsódia Rock) e montou um estúdio no Rio, onde vive até hoje fazendo produção e tocando em eventuais discos de amigos.
Bem, para quem tem saudades daquela época, cá está o disco. Mas, por favor, tentem não rir dos vocais. Eu confesso que não consigo...
1. Fantasia, preto e prata
2. Fogo
3. Metal mania
4. Gata (Wild thing)
5. Corações e pernas
6. Barbaridade
7. O trem fantasma
8. Dança Lolita
9. Pedrada
10. Assassina
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